sábado, 7 de janeiro de 2012

A Crônica da Tatuagem (Aline Dias)

Mais uma da Aline Dias que me emociona:


Crônica da Tatuagem (Veiculada na Rádio Universitária 104,7 FM dia 2 de janeiro)

Meu pai fez uma tatuagem. Aos quarenta e seis anos de idade, sem nunca ter feito essas coisas na vida e tendo posto no máximo um brinquinho na orelha durante o festival de alegre, o véio (perdão, senhor de meia idade) resolveu botar um sol no braço. Nada contra, as pessoas que tatuem o que quiserem e onde quiserem que isso é problema de cada uma delas, não nosso. Se a gente fica comentando muito, aliás, vira fofoca.



E nem venha você, ouvinte, fazer cara feia porque eu estou fazendo fofoca sobre este distinto senhor que tenho como pai aqui na rádio. O negócio é que ele sempre foi contra tatuagem e ficou dois anos implicando com a tatuagem feita pela minha irmã Marcela na cintura. Marcela tatuou uma frase de uma música do queen: “anyway the wind blows”, que significa onde quer que o vento sopre e, por isso, ganhou da família o singelo apelido de “bosta n’água”. Então, você deve entender que é mesmo muito irônico o mesmo senhor zoador de tatuagens alheias ter agora no braço um sol recheado com o nome da mulher, Katia.



A Kátia fez aniversário agora, no natal, e defendeu o marido das muitas zoações dos amigos do twitter (porque não basta fazer uma tatuagem, é necessário tuitá-la). Meu pai é conhecido na rede pela alcunha de @zeducoelho e tem mais de mil seguidores no twitter. Tuita tanto que chega a incomodar, principalmente quando ele viaja para a casa da minha avó e fica tuitando pratos de comida maravilhosos.



Voltando ao assunto principal, a Marcela, cuja tatuagem foi feita a contragosto do pai, foi a cúmplice escolhida para acompanhá-lo ao estúdio de tatuagem e me contou.



Até o momento da execução do ato, estávamos eu e Marcela duvidosíssimas da façanha. Como temos certo parentesco com uma senhora que faz uma tatuagem nova sempre que fica deprimida, perguntamos a ele se era este o caso. Ficamos preocupadíssimas! Pensamos em mil hipóteses diferentes e eu até cheguei a perguntar se era caso de internação. 



Mas nada disso. Foi feito no braço do senhor o sol da música do Ira! Porque a Kátia é o sol e meu pai, um girassol. E, no fim das contas, isso é muito bonito. 



E por que este assunto? Porque é isso que eu desejo a cada um de nós neste dois mil e doze que chega trazendo, ou não, fim de mundo:

A capacidade de continuar surpreendendo mesmo depois de muito tempo; de deixar os preconceitos caírem por terra; de se renovar; de rir de tudo; de mudar de opinião e, principalmente: um amor grande e bonito o suficiente pra que a gente queira tatuar na pele. 


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