terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Um nem te conto natalino (ou onde foi parar o suspeito?)



Seria fácil encontra-lo, eu tinha a mais plena convicção.

A descrição não dava margem para muitas dúvidas: um metro e noventa, cento e dez quilos, pele alva com bochechas rubras, roupas vermelhas de manga comprida e com detalhes (pele?) brancos nas extremidades; usava um gorro vermelho e dirigia um carro aberto com tração dianteira que, dizem, corria tanto que podia até voar.

Enquanto esperava (minhas fontes diziam que ele passaria pelo ponto de controle por volta da meia noite), resolvi fazer uma “boquinha”: refrigerantes, sementes (castanhas, nozes etc), carnes, peru, frutas típicas do inverno, arroz com lentilha, sem lentilha, com os mais diversos tipos de combinações.

De sobremesa chocolates, bolos, doces, sorvetes, tudo muito bem feito e por várias pessoas.

À medida que se aproximava o horário percebi que as crianças ficavam mais excitadas e os adultos impacientes. Resolvi me sentar, conversar fiado e comer mais um pouco (cada vez que olhava para a mesa via um petisco diferente e com aparência melhor, além de ouvir constantemente frases como “come um pouquinho... já provou este? ... nossa, este aqui está tão bom...”)

Meia noite. Olho para o lado e não acho o suspeito que procurava. Como eu poderia não encontrar um velhote com as barbas já brancas e carregando um saco nas costas?

Olho para cima, para frente, viro o pescoço e resolvo me levantar, mas não consigo.

Alguma coisa me prendia fortemente à cadeira, mas não eram laços nem cordas.

Uma força incrível parecia colaborar com a gravidade e dificultava qualquer movimento que eu tentasse fazer. Algum tipo de pressão magnética? Algum raio ou veneno?
Precisava ter calma e quando já perdia as esperanças resolvi abaixar minha cabeça e foi nesse exato momento que o mistério teve fim.

Abaixo da minha cabeça pude ver algo que não me pertencia antes, mas que agora havia se incorporado como se eu fosse sempre daquele jeito. Ele estava ali, exatamente ali.

Chegou sorrateiro, de mansinho e não me deu sequer chance de reação, mas agora ele também dali não sairia.

Ele estava em minha barriga, impedindo meus movimentos e eu não percebera.

Acreditem vocês ou não, mas a verdade é uma só: Eu comi o Papai Noel!

sábado, 15 de dezembro de 2012

ASSIM FALAVA THEODORE



Eu não gosto muito desse negócio de ficar citando frases e pensamentos, mas resolvi fazer isto porque num caso específico só uma frase já pronta para explicar como me sinto.

Nos últimos anos convivi com pessoas dos mais diversos matizes, num espectro bem mais amplo que cinquenta tons de cinza.

De tantas pessoas que conheci, uma, em especial, me chamou a atenção, pois foi alguém a quem, num primeiro momento, admirei, depois confiei e cheguei mesmo a defender, acreditando piamente em sua grandiosidade.

Com o passar do tempo percebi que, em verdade, tal pessoa é daquelas que mais abomino, ainda que tenha descoberto isso tarde demais. 

Não era grande mas, tal como seu físico, tísica de alma.

É fato que tenho profundo desprezo por quem, tendo o poder de transformar alguma coisa para melhor, prefere a omissão, calando-se e escondendo-se atrás de seus próprios temores. Prefiro os que erram, pois entendo sempre o erro como uma tentativa de acerto e me permito, para esses, gastar minha boa vontade.

Caneta é, para mim, coisa muito séria, que pode ser usada como arma para aprisionar ou libertar.

Caneta é feito laser, que pode servir para destruir, se usado de forma bélica, ou para salvar vidas, se usado para fins cirúrgicos.

Caneta na mão de fracos acaba virando lápis: alguma coisa com que se traça e que deixa marcas, mas que se pode apagar.

Uma pessoa em especial teve oportunidade de fazer muito, de transformar vidas para melhor, mas preferiu a omissão. 

Podia ser rico, mas preferiu ser pobre.

Medo? Incapacidade? Ganhos e vantagens obscuras?

Não sei, mas vejo nessa fraqueza o sinal da pior espécie de pobreza que alguém pode ostentar: a de espírito, dos que não percebem que a pior espécie de arrogância é a falsa humildade.

Daí é que me lembrei da tal frase, a de Theodore Roosevelt, que deixo para vocês:

"É muito melhor arriscar coisas grandiosas, alcançar triunfos e glórias, mesmo expondo-se a derrota, do que formar fila com os pobres de espírito que nem gozam muito nem sofrem muito, porque vivem nessa penumbra cinzenta que não conhece vitória nem derrota."