De Cazuza, o Filme, tiramos uma grande lição: de uma forma ou de outra sempre pagamos o preço exato por nossos atos.
O filme, baseado num livro escrito pela mãe do poeta, narra sua vida e revela fatos interessantíssimos como, por exemplo, a existência de um pai quase inexistente e de uma mãe extremamente devoradora, que bancava todos os atos do filho “exagerado”.
O pai, sem tempo para o filho e a mulher, homem de negócios importantíssimo que era (e ainda é) não consegue perceber a formação de uma relação quase incestuosa entre mãe e filho. Essa, em nome de um suposto amor, aceita tudo, admite tudo, e, para piorar, ainda tenta pagar as contas de seu “maior abandonado”. Quando ele decide morar sozinho é a prestimosa mãe quem vai se preocupar com a limpeza e arrumação do apartamento, que, aliás, é custeado com o dinheiro do pai.
E assim Cazuza segue, podendo tudo, sem limites, sem forma e sem decisão. Não sabe se é do rock ou é do samba, não sabe se gosta de meninos ou meninas, então se relaciona com os dois, sem culpas, verdadeiro “beija-flor”, sem compromisso, “sem pódio de chegada ou beijo de namorada”, apenas um cara. A permissividade da mãe e a quase inexistente figura paterna são o terreno fértil para isto.
Verdadeiro beija-flor, disposto a voar livremente e experimentando apenas o mel da vida, nunca precisou pagar por nada. Quando Lucinha encontra uma sacola de maconha em seu apartamento e joga fora é alertada pelo filho de que aquilo custava dinheiro. Sua resposta? “Eu pago”. Sequer a gasolina de seu próprio carro precisava pagar e, quando esta acabava Cazuza não precisa caminhar até o posto mais próximo, bastava um telefonema que a mãe se prontificava a levar para ele.
Mas Cazuza pagou um preço alto pelos seus atos, pagou com juros tudo aquilo que se negou a pagar ao longo da vida: pagou com a própria vida, pois não há ilusões, pois na verdade tudo na vida tem um preço, pois na verdade “o tempo não para”.