No fundo eu acho que todo pai é um pouco Geppetto, o entalhador criado por Carlo Collodi e popularizado pelos Estúdios Disney no desenho animado Pinóquio (Pinocchio, em italiano).
É que as crianças chegam até
nós como se fossem um pedaço amorfo de madeira e é justamente o nosso trabalho,
o de pai, que faz com se transformem em meninos (ou meninas) de verdade.
O que um entalhador faz com suas ferramentas de trabalho
numa peça de madeira é traçar uma linha de demarcação, uma divisa, uma
fronteira, um extremo, um fim, um ponto que não se deve ultrapassar, de modo
que o material se transforme em alguma coisa com características e identidade
próprias. Ora, mas demarcar, estabelecer divisas e um ponto final nada mais é
que o conceito do Aurélio para a palavra “limite”.
Mas não é isso que um pai faz? Não é a função paterna
justamente a de estabelecer limites para que o ser tenha forma?
Assim como um entalhador, um pai tem que ser paciente, mas
firme, marcando a madeira, lixando, polindo, jogando fora, tirando e
descartando tudo o que não é menino.
Mas não basta!
Pinocchio, sem ter em si mesmo, vindo Deus sabe de onde, uma
força misteriosa, um desejo descomunal não só de ser menino, mas menino de
verdade, seria apenas um boneco de madeira, um títere manipulado por alguém
segundo os desejos daquele, nunca alguém dotado de vontades, expectativas,
sonhos e identidade própria.
Quando Geppetto estava convicto de que Pinocchio estava
pronto e que poderia descansar é que descobriu que seu trabalho jamais teria
fim. Pinocchio, tendo vida própria, começou a cometer seus próprios erros, suas
mentiras e verdades próprias, usando e gozando do direito de viver sua vida conforme seus
próprios parâmetros.
De um lado a busca do gozo infinito, do outro os limites.
Haja noites sem sono, haja joelho no chão, haja discussões eternas e
intermináveis...
O desejo de ser alguém, de ter vida própria, em choque com o
desejo de estabelecer e manter suas regras e limites vem causando há séculos os
tais conflitos de gerações, que deixam pais sem cabelo ou de cabelo branco e
filhos de cabelo em pé.
Nesse vendaval de emoções é que me perguntam se eu gosto de
ser pai.
Não é questão de gostar ou não gostar. É que sou pai desde
os 22 anos e nem me lembro mais o que é não ser pai. Me tirem meus filhos e a
minha vida vai junto. Sou um bom pai? Sou um pai ruim? Não sei. Tento ser bom,
nem sempre consigo.
Em relação aos meus filhos ouso parafrasear Florbela Espanca
quando ela diz que "não és sequer a razão do meu viver, pois que tu és já
toda a minha vida".
FELIZ DIA DOS PAIS para todos nós.
Lindo!
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